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aruanda

(dir.: Linduarte Noronha, 22min, PB/Brasil, 1960)

Ótimo registro da situação dx negrx brasileirx há 56 anos atrás no sertão nordestino (aqui, especificamente, Serra do Talhado, Paraíba,1960). Linduarte Noronha inspira o movimento do Cinema Novo ao influenciar em vários cineastas da geração, um interesse em visibilizar questões objetivas da sociedade, como a desigualdade social através da linguagem cinematográfica. Penso Linduarte aqui segundo o que Sganzerla chamaria de Cineasta do Corpo, ou fazendo um cinema do corpo. Um cinema físico, materialista talvez? Onde o corpo está em conflitos que são externos a ele, onde a perspectiva para resolução destes se encontra na destruição de um desses elementos. Política.

 

Entretanto, se em outros filmes considerados do Corpo pelo nosso Mr. Sganzerla como "Scarface" existe a violência explícita sempre presente como dispositivo de movimento da dramaturgia, em "Aruanda" entendo a violência de forma mais sutil. A violência na memória. A memória é um fator fundamental e naquele contexto do cinema brasileiro pré-cinema novo, usado como especificidade do "gênero"/"categoria (?) do documentário: Não existem, no presente do filme um conflito somente daquele momento, sem relação histórica; um conflito qual pudesse ser resolvido dentro do próprio tempo de filme.

 

O cotidiano revela a violência: seus corpos possuem marcas de um passado, assim como as suas rotinas e situações em que vivem existem em função do enriquecimento e manutenção de privilégios de uma supremacia branco-burguesa. A precariedade de suas vidas é a precariedade estética que o filme se interessa em reivindicar enquanto linguagem, composição. Ainda assim, me questiono sobre os limites dessa precariedade estética ao se observar uma preocupação clara com as marcações precisas e estabilidades de uma fotografia muito "organizada", se for pegar como parâmetro o cinema marginal, que também se interessa pela precariedade, mas assume ela até mesmo dentro de uma decupagem mais desordenada, caótica, confusa.).

 

Acompanhando suas rotinas, o filme assume uma postura distanciada dos sujeitos (apesar de acompanhando suas vivências, não compartilha da interação), utilizando uma voz over (do próprio diretor) que cria um prisma de visão diferenciado do filme e ao mesmo tempo uma certa linha narrativa, que tem como início a formação do quilombo em Serra do Talhado, e que termina admitindo se perder em um ciclo vicioso, recurso dramatúrgico bastante ilustrativo da própria visão de esquerda do diretor sobre o sistema capitalista e o contexto destas figuras periféricas.

por lorran dias

lapa/rj, 2016

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